Cantar da Iara
Seus verdes longos cabelos
em ondas se penetravam.
Um rosto de tal beleza
que nele a morte se amava.
Tentando alcançar estrelas
peixinhos viravam aves.
A lua escondia seu rosto
atrás de um leque de nuvens...
Um leve cantar flutuava,
coral de corais e algas
do reino da encantaria.
Enquanto o moço seguia,
descendo as escadarias
dos vagos degraus das águas...
O rio passou em si mesmo
criando-se e destruindo-se.
O tempo que, em si, passava
criava o tempo e destruía.
A vida foi recompondo
do ponto em que o moço havia.
Paes Loureiro, in Obras reunidas. São Paulo. Escrituras Editora, 2000